Há alguns meses saiu uma noticía sobre um pitbull que tinha atacado uma criança de dois anos.
Houve um frenesim nas redes sociais, toda a comunicação social noticiou o caso, grande parte da blogosfera comentou e por aí vai.
Eu e o meu companheiro pensamos e planeamos ser pais, nada de extraordinário certo? só que nós temos um cão igualzinho a esse que matou a criança... Estive dias à beira de lágrimas, a ler tudo o que a comunicação social publicava, a tentar de alguma forma entender o que passou, o que podia ter sido feito, a tentar apurar responsabilidades.
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Postei o seguinte texto e foto no meu mural do facebook
este é um texto complicado, mas vou ter que escrever
o cão na foto abaixo é o tete Evaristo. é o nosso cao, tem dois anos e uns pozinhos, foi adoptado por nós pouco depois do desmame. o Evaristo pesa 25 kilos (ou pesava isso da ultima vez que fomos ao vet), é bastante tranquilo, gosta que brinquem com ele na montanha, sabe quando algum de nós chega a casa, assusta-se com camiões grandes e ruidos fortes (como o aspirador, geradores, secadores do cabelo) e larga a correr como um desgraçado atras de passarinhos ou moscas, bebe mais depressa a agua morna que a agua fria e fica muito curioso quando eu faço exercício em casa.
quando o adoptamos precisamos colocar-lhe o chip (e registar o chip), fazer seguro, vacinar, e registá-lo na nossa freguesia. fizemos tudo isso; ele entretanto cresceu e fomos sempre tentando educa-lo, educa-lo a usar açaime quando na rua, educa-lo a sentar antes de comer, educa-lo a dar a pata quando dizemos para "saudar" alguém, educar a não se por aos saltos com alguém novo mas sim a cheirar e a seguir tranquilo, educa-lo a não fazer as necessidades dentro de casa e a não comer os sapatos, essas coisas todas. e ele cumpre com tudo isso.
faz meses, eu ia buscar o meu homem ao trabalho, na rua eu levo-o sempre ao meu lado, com açaime e corda curta, nesse dia ele ia assim, alguns turistas aproximaram-se de nós duma forma não muito amigável (estavam bebedos) e ele ainda que detido colocou-se na defensiva, e todos nós temos ideia de como é, todo o corpo em riste, orelhas levantadas, grunhido, assim estava, consegui distraí-lo e seguimos, e não duvidei por um segundo que se ele não estivesse com corda, se ele não levasse açaime, se nós não o tivéssemos educado minimamente para que ele reagisse a minha distração, ele tinha atacado. o veterinário defende que ele possivelmente entendeu aquelas pessoas como ameaçadoras e se colocou à minha frente para me defender.
nós temos entendido que o nosso cão é dócil, nós achamos que ele é tranquilo, nós fazemos os possíveis, a cada dia por educa-lo, por dar-lhe carinho, por satisfazer as suas necessidades de exercício comida e mimo.
esta noticia saiu hoje nos jornais
https://www.publico.pt/sociedade/noticia/ crianca-mordida-por-cao-em- beja-morreu-no-hospital-15 79897
uma criança de 18 meses, foi à cozinha, o cao dormia lá as escuras, a criança tropeçou por cima dele e o cao atacou-a. a criança morreu
eu não sei as circunstancias ou cuidados que o animal tinha (a noticia não esclarecia) mas eu sei como vi as coisas funcionarem em Portugal, eu sei que tipo de homem geralmente adquire um cao destes, eu sei que tanto em Portugal, como em espanha como na frança como aqui em Andorra, os donos tentam sempre escapar ao seguro, ou as medidas de proteçao, ou aos treinadores. quanto ao caso em particular já me perguntaram se eu não tinha medo.
eu não tenho crianças em casa, e não sei como reagiria a um cenário destes, para mim tudo isto foi um terrivel acidente, tal como podia ter sido se o meu cao não fosse bem agarrado naquele episodio com os turistas que falei acima
sinto muito pela família da criança, e espero que mais medidas sejam tomadas pelo governo para evitar que casos destes aconteçam
e acima de tudo deixo uma mensagem que a minha mae me ensina há anos "os caes não se confessam", eles não tem pensamento racional como o nosso e reagem a instintos, por muito que sintamos que eles são parte da família, eles não são pessoas, não devem ser tratados como pessoas, e amá-los é garantir que sabemos que são animais e termos isso em consideração a cada segundo
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Por essa altura, no perfil do facebook d'A maçã de eva surgiu a mesma discussão ou algo dentro do tema (busquei e busquei e não encontrei o que era suposto, insiro aqui depois caso encontre) e eu disse num comentário que odiava o meu gato, sim nós temos o cão acima e um gato. O gato já cá estava quando eu me mudei, o cão foi adoptado por nós dois em conjunto, não maltrato o gato mas a verdade é que não foi uma escolha minha tê-lo, não consigo criar vínculo com ele da mesma forma que criei com o cão, mantemos ambos com cuidados em dia, seja comida, casa, afecto, exercício, porém não consigo sentir nada pelo gato. E os comentaristas cairam-me em cima, dizendo "ai se fosse minha mulher já tinha posto as malas à porta por dizer isso" e pérolas do género.
Por mensagem nesse mesmo dia, uma pessoa sentiu-se no direito de dizer que eu devia ter os animais retirados, que não devia nunca ter filhos, que se fossem filhos vamos a ver se falaria assim deles, e coisas dentro do género.
A coisa ficou feia de tal jeito que aquela caixa de comentários chegou ao blog da mais picante (podem ver neste link nos primeiros comentários, gente a falar sobre isso)
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Quero então "comentar" e "dizer de minha justiça" sobre umas quantas coisas, agora que o assunto já cristalizou na minha cabeça.
1. Odeio o gato, amo o meu cão - não maltrato nenhum dos dois, não lhes falto com nada, não posso converter a minha casa num abrigo (por conta da lei em relação a termos este cão que nos impede de adoptar/comprar mais animais), contribuo com o que posso para alguns guardiães de animais ou associações, tenho ambos os meus bichos com toda a documentação, vacinas, seguro, e cuidados em ordem, porque acho que devemos ter animais SEMPRE DE FORMA RESPONSÁVEL... O único detalhe é que com o cão consegui criar vínculo, com o gato não, simples
2. O meu marido devia ter-me expulsado/"metido malas à porta" por eu não gostar do gato - quando eu escolhi o meu marido, já sabia que o pacote incluía o gato, quando ele me escolheu a mim já sabia que eu odiava ter que aspirar a casa toda diariamente por causa dos pêlos do gato, chegamos a um consenso, ele cuida do gato, eu cuido dele. Não me levem a mal os comentadores mas acho medonho que alguém decida negar o amor e afecto humano por um detalhe como este, mas cada um saberá quais são os seus "deal breakers" e para mim é tudo ok.
3. Eu não devia nunca poder ser mãe porque claramente não sei o que é ser dona dum animal, quanto mais dum bebé humano - vamos parar com esta merda de que ser dona dum animal é igual a ser mãe, não, não é. Enquanto eu não poder deixar um bebé com uma taça de ração e outra de água para ir trabalhar ou às compras, enquanto eu tiver que assinar um termo de responsabilidade anual, seguro e tratamentos por ter um cão potencialmente perigoso, mas não tiver igual obrigatoriedade ao ter um bebé não falamos da mesma coisa. O amor revela-se de muitas formas, mas é incomparável neste caso.
4. Outra treta que surgiu foi quando em algum destes sítios (já não me lembro em qual) eu defendi que "entregassemos" os animais caso nos sintamos sem condições para os criar, e alguém dizia "claro, e quando tenhas um filho fazes-lhe o mesmo não é?" e sim, basicamente é isso, se eu por qualquer motivo sinto que não posso mais criar o meu cão (e neste caso falo em questões de agressividade/dominância) ou seja, se o meu cão algum dia começa a mostrar-se violento, eu tratarei de primeiro buscar-lhe apoio (como já fiz antes, buscando treinadores e aulas para ele), e caso a situação fique insuportável para mim, pedirei ajuda a um abrigo ou associação ou mesmo entregá-lo-ei a quem tenha mais conhecimento do assunto que eu... Da mesma forma que supondo que algum dia eu seja mãe duma criança/adolescente que eu não consigo controlar/orientar/ensinar tratarei de pedir ajuda seja aconselhamento, ou terapia ou qualquer outra opção, ou caso a situação fique grave tratarei de pedir ajuda às autoridades ou entregá-lo para que alguém me ajude... Eu não nasci ensinada nem para dona de animal nem para mãe, e portanto assumo que devamos sempre pedir ajuda quando necessário, isso faz de mim "mais fria"? Pois tudo bem, serei uma pessoa fria a tentar ser racional.
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Fico revoltada com os extremismos de ambos lados, seja dos fanáticos dos animais, ou dos fanáticos da parentalidade, vamos sentar e conversar está bem?

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